Diários de Bicicleta é uma síntese do livro com o mesmo nome, escrito por David Byrne ao longo dos últimos anos. Num estilo despojado que passeia entre ensaio, relato de viagens, diário pessoal e albúns de fotografia, David Byrne registra também suas reflexões sobre uma variedade de assuntos. O livro foi publicado no Brasil pela editora Amarilys.

domingo, 16 de maio de 2010

Nova York (II)

David Byrne*
Em uma bicicleta, estando apenas um pouquinho acima do nível de visão de um pedestre e de um carro, tem-se uma visão perfeita do que está acontecendo em sua própria cidade. Diferentemente do que acontece em muitas outras cidades americanas, aquí em Nova York quase todo mundo é obrigado a pisar numa calçada e encontrar outras pessoas pelo menos uma vez por dia - todo mundo faz pelo menos uma breve aparição pública. Eu uma vez tive de desviar para não atropelar Paris Hilton, segurando seu minúsculo cachorrinho, atravessando a rua no sinal aberto e olhando ao redor, como dissesse " Eu sou Paris Hilton, vocês não estão me reconhecendo?." Do ponto de vista de um ciclista você vê tudo isso muito bem.
Bem em frente a um teatro em Midtown um homem passa de bicicleta - uma daquelas lowrider¹. É um homem adulto, com uma aparência bastante normal, exceto pelo fato de ter um sistema de som monstruosamente grande preso à frente da bicicleta.
Eu continuo pedalando a minha e poucos minutos depois outra bicicleta com boom box passa. Desta vez é uma mulher, estilo leitora-de-Jane-Austen-que-veste-sapatos-confortáveis. Ela está em uma bicicleta comum, mas, mais uma vez, com um boom box (menor) preso à traseira.... Não consigo identificar a música.

Arquétipos de cidade

Há uma revista na prateleira da entrada do restaurante paquistanês onde eu costumo almoçar, chamada InvAsian: Um diário para os culturalmente ambivalentes.
O que existe em certas cidade e lugares que incentiva atitudes específicas? Sou eu que estou imaginando que isso existe? Até onde a infraestrutura das cidades molda as vidas, o trabalho e as emoções de seus habitantes? Muito significativamente, eu imagino. Toda essa conversa sobre ciclovias, prédios feios e densidade populacional não envolve apenas essas coisas, trata-se também do tipo de gente em que essas coisas nos trasformam. Eu não acho que seja imaginação minha que as pessoas que  se mudam de qualquer lugar para Los Angels inevitalvelmente perdem as características do ambiente de onde vieram e acabam criando trabalhos tipo-LA e sendo pessoas tipo-LA. As atitudes criativas, sociais e cívicas dependem do ambiente de onde vivemos? Sim eu acredito nisso. Como isso acontece? É algo que se infiltra sorrateiramente através da pressão dos amigos e de conversas casuais? É a água, aluz,o clima? Há uma sensibilidade de Detroit? Menphis? Nova Orleans(Sem dúvida.) Austin? (Certamente.) Nashville? Londres? Berlin? ( Eu diria que há um senso de humor berlinense, com certeza.) Düsseldorf? Viena (Sim.) Paris? Osaka? Melbourne? Salvador? Bahia? (Com certeza).

¹N.T.: Bicicletas baixas, com pneus menores e mais largos. A posição de pilotagem se assemelha à das motos estilo Harley Davidson
* David Byrne, é músico, fotógrafo e escritor. Reside em New York desde a década de 80.

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