Diários de Bicicleta

Diários de Bicicleta é uma síntese do livro com o mesmo nome, escrito por David Byrne ao longo dos últimos anos. Num estilo despojado que passeia entre ensaio, relato de viagens, diário pessoal e albúns de fotografia, David Byrne registra também suas reflexões sobre uma variedade de assuntos. O livro foi publicado no Brasil pela editora Amarilys.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

O Futuro da Locomoção II

David Byrne*
Após o evento no Town Hall, o Departamento de Transportes me procurou para julgar um concurso para projetar novos estacionamentos de bicicleta para a cidade de Nova York. Concordei, e sugerí que embora precisemos de mais paraciclos individuais aquí e alí, é nos lugares onde as pessoas se reunem - ou se congregarão no futuro -que o assunto deve ser priorizado.
Cinemas multiplex, casas de espetáculos, escolas, feiras e parques onde os nova-iorquinos tomam banho de sol e se encontram precisam de muitos bicicletários, não apenas alguns paraciclos.
Em Williamsburg, um ponto de estacionamento ao lado da estação da linha L da Avenida Bedford - a principal estação de metrô que leva e traz os moderninhos de Manhattan - foi tomado pelo DDT e modelado para fazer uma área de estacionamento de bicicletas do tamanho de uma vaga de carro. Um bom número de bicicletas cabe ali, e está lotado a maior parte do tempo. Trocar uma vaga de carro aqui e ali por espaço para estacionar bicicletas parece prático - não há outroslugares que comportem um paraciclo grande, a menos que um prédio na vizinhança tenha praça.
Em Tóquio pedalei até um complexo que incluía cinemas, restaurantes, um museu e lojas finas. Ele tinha uma sala dedicada a estacionar bicicletas com mecanismos que possibilitam empilhá-las em dois andares. E gratuito. De certa forma, aquela sala foi construída para evitar que pessoas como eu prendam suas bicicletas em cercas e postes - lugares que poderiam causar engarrafamento de pedestres. Portanto , não é apenas 100% de altruísmo - é prático também.
Quando concordei em ser um dos jurados dos projetos de paraciclos, desenhei algumas ideias divertidas para suportes menores, cada um para um bairro específico de Nova York, e as passei para o DDT. Não eram propostas sérias, mas um incentivo para descontrair. Para minha surpresa , o DDT respondeu: " Vamos fazê-los! Se alguém pagar pela fabricação, vamos instalá-los".
Como estes paraciclos são únicos, eles não são mesmo oferecidos como uma solução para o problema das vagas para bicicletas. Mas eles chamaram a atenção para o assunto.
Alguns meses depois o verdadeiro vencedor foi escolhido - um projeto elegante e prático em forma de roda (foto).

sábado, 17 de julho de 2010

O futuro da locomoção

David Byrne*
Em um artigo recente da revista New York, li que um em cada seis trabalhadores norte-americanos leva mais de quarenta e cinco minutos no trajeto de casa ao trabalho, em cada direção. Um número crescente de pessoas gasta ainda mais tempo - noventa minutos para chegar ao emprego não é nada fora do comum nos dias de hoje. Embora algumas destas pesoas usem transporte público - trêns urbanos e metrôs - há uma boa porcentagem de motoristas sozinhos aí também. È insustentável. Insustentável significa que alguma hora o comportamento será inevitavelmente alterado ou modificado, seja de forma intencional e voluntária, seja como resultado de consequência trágicas. De qualquer maneira, não vai continuar assim por muito tempo.
O fato é que no século XX o automovel foi subsidiado em larga escala. As ruas lindamente pavimentadas que dão acesso às menores cidadezinhas e regiões obscuras nos Estados Unidos não foram construídas e mantidas pela GM ou Ford - ou mesmo pela Mobil e Esso. Estas corporações foram se beneficiaram enormemente do sistema. Os trajetos ferroviários para cidades pequenas foram abandonados e os caminhões se tornaram, para a maior parte dos produtos, o meio mais barato, e às vezes único, de transportar produtos de um lugar a outro.
A cidade de Nova York está saindo na frente ao lidar com a congestão do tráfego, embora não seja exatamente uma cidade-modelo neste aspecto. Algumas cidades europeias - Copenhague, Berlin e Amsterdã - estão muito adiante nisso. Mas eu vivo aquí, então estou ansioso para ver como a grande e cruel Nova York vai lidar com este elefante.
O Departamento de Transportes (DDT) tem criado ciclovias aqui e ali nos últimos dez anos. Até agora a maioria delas tem sido útil.
Posso notar a diferença quando vou para o centro pelas novas ciclovias da Nona Avenida, coisa que faço com frequência. Instantaneamente sinto como se um peso tivese sido tirado. Não sinto mais a necessidade de ser tão paranoico. Não tenho medo de que um motorista resolva entrar na "minha" pista e, de certa forma, o estado de adrenalina em que entro quando estou negociando espaço nas ruas de Nova York quase se dissipa, por algumas quadras pelo menos. Me movo mais rápido também - não preciso ficar manobrando entre carros em fila dupla, pedestres, caminhonetes de entrega e táxis pegando ou desembarcando passageiros.

terça-feira, 1 de junho de 2010

São Francisco (IV)

David Byrne*
De volta a São Francisco, pedalo até a Taqueria Cancun, que tem incríveis tacos e burritos. Você escolhe o tipo de carne do recheio - carne assada, porco ou frango, naturalmente, mas também cabeça, língua e miolos. Então coloco a bicicleta em um ônibus municipal, todos com lugares para prender bicicletas na frente(!).
 O ônibus que escolhí atravessa a Ponte Golden Gate até Sausalito (na foto, faixa exlusivas para bicicletas) e Marin County. Há trilhas para bicicletas por todo promontório e  a oeste da Marina, grande parte mantida como área de presenvação nacional. É possível ver falcões, urubus, pumas e focas. As trilhas adentram, cercam e estão por todas as colinas áridas e cheias de neblina. Finalmente a maioria das trilhas acaba levando até pequenas enseadas ou praias escondidas. Das colinas dos promontórios você não consegue ver a cidade de jeito nehum; até a ponte Golden Gate é escondida.
O ar revigirante e a névoa me lembram as sombrias, porém lindas Terras Altas da Escócia, embora a garoa seja menos frequente aquí. Na Escócia, assim como na Islândia e na Irlanda, já existiram florestas que cobriam as colinas, mas gradualmente elas foram todas desmatadas, deixando um território bonito e que parece um outro mundo estranho.
*David Byrne, músico e escritor, nasceu na Escócia e vive em Nova York desde o final da década de 70, onde utiliza a bicicleta como meio de transporte.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

San Francisco III

David Byrne*
Não é por acaso que a humilde garagem onde Bill Hewlett e Dave Packard começaram sua sociedade em Palo Alto é um ícone aqui. Como o estúdio Sun, em Memphis, onde nasceu o rock, ou Menlo Park, em Nova Jersey, onde Edison iluminou o mundo, esta garagenzinha bagunçada é reverenciada, em parte, porque não é nada especial. Ser tão comum é justamente o xis da questão. O primeiro produto deles foi um oscilador de áudio para testar equipamentos de som. A HP se refere a ele como "o tom ouvido ao redor do mundo".
A garagem é considerada o local de nascimento do Vale do Silício, o que a transforma na perfeita metáfora visual da doutrina qualquer-um-pode-fazer, que ainda está bem viva por aqui. Comece pequeno, pense grande. Pense fora da caixa. Pense diferente.
São todos pensamentos hippes, mas com outras palavras.
No primeiro boom das ponto-com, os preços das propriedades em uma cidade cercada como São Francisco (ou Manhattan) naturalmente dispararam. Garotos recém-formados que não estavam no mundo das ponto-com - jovens artistas, músicos, escritores, atores, excêntricos e boêmios, o tipo de gente pelo qual essa cidade era anteriomente famosa ( e que podem ter sido a inspiração para os sujeitos das ponto-com) - foi empurrado para as margens ou para Oakland e outros lugares.
No final dos anos 90 tudo aquilo ruiu, mas os preços das propriedades nunca baixaram de volta ao que eram antes. O vasto número de espíritos livres e boêmios nunca voltou após ter sido desalojado. O mundo mudou sim um pouquinho com a primeira revolução ponto-com, mas não de forma total, radical e completa como alguns imaginavam. Nem todo mundo estava pronto para viver inteiramente on-line tão rápido quanto alguns tinham apostado.
Talvez com a Web 2.0, com seus websites comerciais mais socialmente interativos e responsivos - e com Wi-Fi e banda larga mais rápida e bem mais distribuída - algumas dessas mudanças imaginadas possam realmente ocorrer em nossas vidas, mas não com as coisas que a primeira revolução prometeu.
Paradoxalmente, enquanto se torna cada vez mais fácil organizar todo tipo de serviço por nossos telefones ou laptops e acessar informações sem limites, o interesse e a procura por coisas que não podem ser digitalizadas aumenta: performances ao vivo, encontros cara a cara, interações, experiências, gostos, tranquilidade.
Aqueles que frequentam redes de relacionamento social passam a valorizar a autenticidade como um tipo de compensação, já que essas qualidades podem ser falsificadas com muita facilidade no mundo on-line.
*David Byrne, músico, fotógrafo e escritor, mora em Nova York e utiliza a bicicleta como meio de transporte desde o final da década de 70. Escreveu Diários de Bicicleta, publicado no Brasil pela editora Amarilys.

domingo, 30 de maio de 2010

Cupertino - (San Francisco II)

David Byrne*
Mas então olho para Jonathan (na foto com Steve Jobs), de camiseta e com o cabelo quase raspado, e percebo que, sim, ele parece uma versão um pouco mais velha de qualquer garoto clubber britânico. Será que não deve ser chato para ele morar aquí em Cupertino?
Cupertino fica ao sul de São Francisco e a oeste de San Jose. É uma cidade pequena que fica encaixada entre colinas costeiras e vinícolas. Não há muito por aquí - alguns centros empresariais, shopping centers e uma maravilhosa mercearia asiática. As colinas a oeste abrigam muitas das novas mansões que os tecnocratas construíram. Não muito longe estão Hewlwtt-Packard, Google, Sun Microsystems e outras empresas do Vale do Silício, que transformaram uma área anteriormente conhecida como o lar da Universidade de Stanford e a pacata cidadezinha de San Jose em uma usina de ideias, inovações, computadores e TI. A região registra uma intensa concentração de engenheiros, nerds, técnicos, empreendedores, visionários e parasitas.
Pelo que posso dizer, não há muita coisa para se fazer nesta parte da baía. Pedalo minha bicicleta bem sem rumo, descendo por avenidas limpas e impecáveis, e não vejo ninguém por perto - nem caminhando nem de bicicleta. (na foto, Cupertino Memory Park) Todas as vias levam a lugares que são versões do que eu acabei de deixar para trás. Pergunto se o pessoal daquí vai para São Francisco para assistir a shows, mostras ou para provar a inovadora cozinha dos restaurantes de lá. Não, esses caras simplesmente amam seus trabalhos, então eles ficam plantados aqui em seus belos subúrbios, trabalhando até tarde, ou levam trabalho para casa.
Há quantias gigantescas de dinheiro aqui. Na época dos Carnegies, Fricks, Mellons, Dukes e Lauders, bilionários faziam estardalhaço apoiando museus de arte local, hospitais, bibliotecas ou outras causa ou instituição de caridade - como Bill Gates fez com a sua Gates Foundation e Paul Allen fez com a Experience Music Project. Mas o que eu mais sinto é que esta turma prefere encarar desafios dentro de seus próprios ramos escolhidos - desenvolvimento de software, tecnologia de Internet, aparelhos bacanas e o que acontece quando você junta tudo isso. Tenho a sensação de que pelo menos alguns deles não ligam muito para todo o dinheiro que estão ganhando também - eles estão ocupados demais para contá-lo. Tudo é tão real quanto Second Life.
Lembro de São Francisco durante o primeiro boom das ponto com. Naquela época todo mundo ia começar seu próprio negócio on-line, o mundo ia mudar da noite para o dia e os investidores estavam fazendo fila para dar dinheiro a todos os geeks com uma ideia vaga, uma boa conversa e algumas habilidades em programação. O fervor e o entusiamo daquela época podem ser comparados ao Projeto Manhattan e seu empenho na cosntrução da bomba atômica. Isto é, era excitante e tinha potencial para mudar o mundo. Mas aquí a mesma paixão missionária foi incorporada pelos inventores/empreendedores malucos. O futuro parecia pré-ordenado - ninguém jamais precisaria sair de casa novamente. Toda ideia era uma ótima ideia, revolucionária, abalaria o mundo. Não é de se estranhar que o mundo da Web às vezes seja descrito como um legado da era hippie - mais com brinquedos mais caros.
* David Byrne , é músico, fotógrafo e escritor. Nasceu na Escócia e mora em Nova York desde o final da década de 70, onde utiliza a bicicleta como meio de transporte. Escreveu Diários de Bicicleta, publicado no Brasil pela editora Amarilys.

sábado, 29 de maio de 2010

São Francisco

David Byrne*
Estava chovendo quando chequei aqui ontem à noite, mas hoje o céu clareou e esta cidade brilha com  a luz cristalina do norte da Califórnia, que faz tudo se destacar. Todos os prédios e pessoas têm linhas duras e frias. É bucólico e difícil de acreditar - uma paisagem de cartão postal, irreal. A bicicleta dobrável que eu trouxe vai ser útil.
São Francisco é filosófica e politicamente simpática às bicicletas (na foto, faixa de proteção para bicicletas, perto da rua Castro), mas não em termos geográficos - suas famosas ladeiras podem fazer alguém pensar duas vezes antes de dar umas voltas pela cidade, mesmo com a cidade propriamente dita sendo concentrada, como Manhattan ou uma cidade europeia. A organização de ciclismo local lançou um mapa maravilhoso que mostra, pela variação de tons de vermelho, o quanto cada rua é íngreme. Uma rua marcada de rosa claro é uma subida leve, mas um vermelho escuro é uma grande ladeira a ser evitada, a não ser que você seja masoquista. Felizmente, esse mapa permite que se planeje uma viagem livre de ladeiras em uma única olhada. Eu não teria pensado nisso, mas você pode planejar uma rota partindo e chegando a quase qualquer lugar e evitar as piores ladeiras - ou quase.
Minha amiga Melanie, organiza uma excursão até a sede da Aplle em Cupertino, próximo daquí, ao sul, e um almoço com o diretor de arte, Jonathan Ive (foto). A equipe de Ive desenhou o iMac original e seus sucessores, o iBook original e seus sucessores, o Power Mac, o Power Mac G4 Cube, o PowerBook, a família iPod e muito mais.
Ive faz uma pequena apresentação com um PowerBook desmontado, mostrando-nos que mesmo por dentro ele é inteligente e elegantemente projetado. Ele parece tão orgulhoso dos intricados mecanismos e peças invisíveis da parte interna como do elegante lado externo. Ele acredita que o design envolve tudo: não é apenas uma decoração do lado de fora que faz tudo parecer bacana, mas se estende às coisas que a maioria de nós nunca vai ver. Nos círculos da Bauhaus e da Wiener Wetkstätte, enfeites desnecessários eram proibidos - considerados não essenciais e supérfulos à integridade do objeto ou da arquitetuta - e assim eram descartados. É famosa a comparação de Adolf Loos¹ entre a decoração e o diabo. Será que o orgulho de Ive pelo design total de seus Power Books carrega desse legado?
Não acho que essa demonstração seja apenas uma questão de ego e orgulho. Ive sugere que, de fato, um interior elegante faz a coisa funcionar melhor também - que um bom design se iguala a uma boa funcionalidade - que se o verdadeiro caminho do bom design for seguido da maneira criteriosa, então não só o objeto terá uma aparência atraente, mas será também um objeto melhor.
____________
¹-N.T.: Arquiteto europeu conhecido pela autoria de um ensaio/manifesto intitulado Ornamento e crime, no qual proclama que a evolução da cultura progride com a eliminação da ornamentação em objetos utilitários.
* David Byrne, é mundialmente conhecido por seu trabalho como músico à frente da banda Talking Heads, cult dos anos 80. É formado em Design e vive desde o final da década de 70 em Nova York, onde utiliza desde então a bicicleta como meio de transporte. Escreveu Diários de Bicicleta, Editora Amarilys.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Londres (V) Voltando para casa)

David Byrne*
Mais tarde, na mesma noite, desmonto minha bicicleta no quarto do hotel. O banco, o guidom e as rodas saem e o quadro se dobra formando uma mala. É hora de voltar para casa em Nova York. Às vezes, os funcionários do hotel não gostam de me ver chegando de bicicleta, mas em geral ela entra escondida na mala e eles sequer têm ideia de que estou aqui no meu quarto usando uma chave Allen e luvas de borracha para não sujar as mãos de graxa, montando ou, neste caso, desmontando o meu meio de Transporte.
Um executivo sentado de frente para mim no saguão do aeroporto de Heathrow está fazendo barulhinhos de bebê no celular.
Pego uma cópia da Newsweek no avião e logo percebo o quanto as revistas de atualidades dos EUA são enviesadas, tendenciosas e dogmáticas. Não que a imprensa europeia ou britânica também não seja enviesada, com certeza ele é, mas quem vive nos Estados Unidos é constantemente lembrado e levado a crer que a nossa imprensa é livre e independente. Depois de passar tão pouco tempo fora, fico surpreso ao ver o quanto isso é uma mentira descarada....
* David Byrne, é músico, fotógrafo e escritor. escreveu Diários de Bicicleta, Editora Amarilys

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Londres (IV) - O que foi ainda é

David Byrne*
A manhã chega, eu acordo e está fazendo sol! Pedalo pelo calçadão de South Bank até chegar ao Museu Tate Modern (foto). Lá, dentro de uma outra exposição, fica uma única sala de pôsteres de uma revista russa publicada nos anos 30 chamada USSR in Construction, que já passou pelas mãos de Rocdchenko, El Lissitzky e outros artistas bastenates radicais da época. Os Layouts são lindos - obviamente criados como peças de propaganda ideológica (a revista era publicada em diversas línguas) - às vezes bregas que só vendo, mas maravilhosos.
Alguém que nunca ouviu falar da União Soviética poderia olhar para essas composições lindas e radicalmente inovadoras e pensar, "Nossa, que lugar fantástico, que cena mais descolada devia ser essa, e que governo iluminado eles deveriam ter para produzir e patrocinar uma revista tão legal!". (Décadas depois, alguém poderia ter dito o mesmo sobre as exposições internacionais de arte abstrata e turnês de jazz patrocinadas pelo governo dos EUA - e de fato era essa a intenção.)...
O que em geral é denominado como realismo socialista não foi um movimento exclusivamente russo. Murais de propaganda ideológica exaltando fábricas e operários também foram produzidos em Nova York e outros lugares. Existem esculturas de baixo relevo entalhadas em prédios no centro de Manhattan, mostrando os funcionários da imprensa que trabalhavam lá dentro. Em uma calçada do meu bairro, há uma enorme estátua de bronze de um homem curvado sobre uma máquina de costura, e uma outra escultura de uma agulha e botões gigante. Glória aos trabalhadores semi-escravos das confecções locais! Por outro lado, ao que parece, o culto ao grande líder vivo não conseguiu firmar tantas raízes aquí como no oriente.
Cruzo o rio, passando por uma moderna ponte de pedestres (ponte do milênio), para chegar à Catedral de São Paulo (ao fundo na foto - onde uma música muito sinistra de órgão estava tocando - com acordes grandiosos e soturnos).
 A porta giratória da entrada tem a seguinte frase: " Esta não é senão a casa de Deus; este é o portão do paraíso."
É uma frase e tanto para uma porta giratória!
Acho que você pode ler a mesma coisa de trás para a frente quando está lá dentro.
* David Byrne, músico, fotógrafo e escritor, nasceu na Escócia e vive em NY desde final dos anos 70, onde utiliza a bicicleta como meio de transporte. Formado em Design, é o autor do livro Diários de Bicicleta, Editora Amarilys.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Londres (III) - Vida no campo

David Byrne*
No caminho de volta ao hotel, atravesso de bicicleta o Hyde Park (foto). O sol está brilhando forte, o que é raro nesta cidade. Há várias pessoas passeando com o que me parecem ser cães de gente rica. Eu só encontro raças seletas pelas ruas: setters irlandeses amarelos, terries escoceses (brancos na maioria) e um ou outro galgo. Quase nenhum outro membro do mundo canino pode ser visto. O mesmo serve para as pessoas - só algumas poucas espécies parecem andar pelo parque.
Passo pelo que suponho ser uma senhora de classe alta com seus filhos. Ela está com um traje completo - casaco de caça verde, calça bege e botas Wellington. Será que ela está planejando uma tarde radical? Achar uma área mais macia no gramado para afundar as botas na lama? Caçar alguns dos patos ou gansos do parque? (As cores que ela está usando serviriam como uma ótima camuflagem.) Os filhos dela também estão vestidos para um "passeio no campo". Versões em miniatura da mamãe. É incrível como embora estejam no meio de uma das maiores cidades do mundo, elas ainda possam fingir para si mesmos que estão no alto das montanhas escocesas. Bom, nem tanto - nós sabemos que aquí, mais do que na maioria dos outros lugares, as roupas servem como indicação da sua classe social.
Depois de almoçar no hotel, saio de novo, desta vez pelo calçadão ao longo da margem norte do rio até chegar a Torre da Ponte, que está cheia de turistas, onde eu sigo pelo sul sobre a ponte até uma pequena ruia lateral onde fica o Museu de Design. Tom Heatherwich é curador da Conram Foundation Collection Show, exposição instalada com maestria, hilária e emocionante. A exposição é composta por trinta mil libras - o orçamento do projeto - das coisas mais estranhas que ele conseguiu reunir; algumas são obras de alto design, mas a maioria não. O interessante é que esse projeto não tem nada a ver com a loja Conran, a não ser pelo fato de que Sir Conran faz parte do conselho do museu e patrocina esta exposição em particular...
Depois de ver a exposição, tomo chá com a (agora ex) diretora do Museu de Design, Alice Rawsthorn, que consegue entrar em sérias discussões filosóficas mais rápido do que qualquer outra pessoa que eu já conhecí. Ela logo me perguntou se eu já tinha conhecido alguém realmente interessante entre os jornalistas que me entrevistaram nos últimos tempos. Respondí comentando uma ideia que me ocorreu em relação à imagem das pessoas criativas, especialmente artistas como eu.
O público tende a pensar que o trabalho criativo é a expressão de um desejo ou paixão pré-existente, uma sensasão que se manifesta, e de certa forma, isso até é verdade. Como se um violento rompante de paixão, fúria, amor, sofrimento ou desejo dominasse o artista ou compositor, como poderia acontecer com qualquer um de nós, mas com a diferença de que os artistas não tem outra alternativa a não ser expressar esses sentimentos através de algum meio criativo...
O trabalho criativo é na verdade semelhante a uma máquina que escava e encontra coisas, elementos emocionais que servirão algum dia como matéria prima para que mais coisas sejam produzidas, coisas como ela mesma - uma argila disponível para usos futuros.
* David Byrne, músico, fotógrafo e escritor, nasceu na Escócia e vive em Nova York desde o final da décda de 70. Utiliza a bicicleta como meio de transporte em suas viagens pelo mundo. Escreveu Diários de Bicicleta, Editora Amarilys. (pag. 216)

terça-feira, 25 de maio de 2010

Londres (II) - A polícia interior

David Byrne*
Pela manhã, pedalo rumo ao leste, saindo do hotel em Shepherd’s Bush e atravessando a cidade até a Galeria Whitechapel, onde tenho uma reunião com Iwona Blazwick, a diretora, sobre uma possível conversa mais séria depois do outono. Isso me faz passar mais ou menos em linha reta por Londres, de leste a oeste, ao norte do rio Tamisa. Eu poderia ter ido por uma avenida de várias faixas que vai até lá (de Westway até Marylebone Road e Pentonville Road – que são todas a mesma avenida na verdade), mas prefiro passar pelos pontos mais famosos da cidade, coisa que, segundo Henriette Mortensen, da Gehl Architects, um grupo dinamarquês de consultoria e planejamento urbano, é uma espécie comum de instinto urbano. Ela me disse que em certas partes de Nova York há pouquíssimos pontos reconhecíveis, o que deixa as pessoas um pouco desnorteadas às vezes. Não que elas fiquem totalmente perdidas – embora isso possa acontecer com turistas – mas o nosso limitado senso instintivo de localização exige mais referências em algumas áreas. Em várias cidades, esses marcos são prédios famosos, pontes e monumentos. Um arco do triunfo, uma velha estação de trem ou uma praça com uma torre ou uma igreja no meio são exemplos comuns. Em diversos lugares, tudo isso foi construído em épocas de prosperidade, o que me faz pensar se os arranha-céus de aço e vidro que estão surgindo por toda parte agora – alguns com formas malucas, parecidos com picles ou pirâmides de ângulos agudos – algum dia serão vistos pelas gerações futuras como os marcos charmosos que dão identidade às suas cidades. Será que no futuro esses bizarros monólitos de aço e vidro espelhado poderão causar o mesmo impacto que a Torre Eiffel, o Zócalo e o Arco de Mármore causam hoje?
Meu caminho passa pelo Hyde Park, o Arco de Mármore, o Palácio de Buckingham, Picadilly Circus, a região dos teatros e o Mercado de Spitalfieds. Não é a rota mais curta até Whitechapel, mas zanzar de um marco histórico a outro me dava a sensação de estar em um gigantesco jogo de tabuleiro – e era muito gratificante. Cada marco fica bem perto um do outro, então a jornada rumo ao meu destino era como uma série de passos gigantes.
Assim que eu chego, nós conversamos tomando chá e Iwona me fala que esteve há pouco tempo no Irã para visitar alguns dos artistas de lá. Ela me conta que a maioria deles é surrada regularmente por agentes do governo e que eles já incorporaram isso aos seus estilos de vida e à forma de se vestirem, usando seis calças nos dias em que serão espancados.
Não por acaso, o rumo da conversa volta-se então para as sociedades patriarcais, e ela comenta que as sociedades que dividem os sexos às vezes fazem isso para encorajar a violência e a agressão para que as pessoas sejam mais belicosas.
Em dado momento, para exemplificar essa idéia de que pessoas oprimidas se tornam opressoras, ela menciona a agressividade da dominação de Israel sobre os palestinos e o comportamento agressivo dos israelenses como se isso fosse um fato incontestável. Eu não discordo totalmente, mas fico surpreso por ouvir isso sendo dito assim tão abertamente. Nos EUA, e ainda mais em Nova York, existe uma censura interna não muito sutil que cerceia declarações como essa. As pessoas nunca fazem comentários deste tipo, e, se fazem, são alvo de olhares reprovadores ou acusações de anti-semitismo.
Eu me pergunto quantos outros aspectos do pensamento norte-americano também sofrem essa autocensura. Vários imagino eu. Toda cultura precisa ter suas zonas proibidas.
* David Byrne nasceu na Escócia e mora em Nova York desde o final dos anos 70. Fez parte da banda cult dos anos 80 , Talking Heads. Viaja pelo mundo com sua bicicleta desmontável e escreveu o livro " Diários de Bicicleta" , fonte deste blog. 

segunda-feira, 24 de maio de 2010

LONDRES (I)

David Byrne*
Londres não é uma cidade planejada, o que pode ser tanto bom como ruim para quem anda de bicicleta. Conhecendo bem as ruas, você pode ziguezaguear pela cidade e escapar das grandes e congestionadas avenidas que serpenteiam através do labirinto de ruas menores. Usando essas artérias secundárias, é possível chegar até seu destino percorrendo mais ou menos a menor distância entre dois pontos. Por outro lado, como não sou um nativo, acabo tendo que consultar o mapa várias vezes, já que as longas ruas daqui podem fazer com que as pessoas se percam – você pode, por exemplo, estar indo para noroeste e não para oeste sem nem se dar conta e ir se afastando gradativamente do seu caminho por quilômetros.
Londres é enorme para uma cidade antiga. A maioria das capitais européias é bem compacta, mas Londres, que na verdade é uma junção de vilarejos menores, tem vários centros, e seus lugares interessantes podem estar a quilômetros de distância uns dos outros. Como resultado, suas pedaladas podem ser longas e árduas. Isso não implica necessariamente uma viagem mais demorada do que se você fosse de metrô, mas às vezes eu chegava meio suado ao meu destino.
Depois de muitos anos, aprendi a não preencher todos os meus dias de viagem só com trabalho e a separar um pouco de tempo livre, um respiro, para que eu pudesse manter a sanidade apesar da sensação de deslocamento que acompanha essas viagens. Vagar pelas ruas limpa a sua cabeça de problemas e preocupações que podem estar se esgueirando e, às vezes, pode até ser inspirador. Eu prefiro ir a exposições de arte contemporânea por ser uma área coma qual estou envolvido...
Estereótipos Culturais
Começa a escurecer enquanto eu volto para o hotel. Pedalar por essas sinuosas ruas secundárias é um prazer, especialmente em um dia de sol. A cidade tem proporções bastante humanas e “casinhescas”, como diz minha amiga C.
Imagino que existam normas limitando a altura dos prédios em vários bairros daqui. Ao longo dos anos, isso forçou a cidade a crescer desenfreadamente, o que por sua vez, piorou o trânsito. Em geral, os prédios têm menos de dez andares, e esses detalhes de escala e da arquitetura contam uma história sobre como os ingleses se enxergam como pessoas e como nação. “Nós podemos ser sofisticados, elegantes e aristocráticos; titãs criativos; imperialistas e exploradores, mas no final das contas, somos pessoas simples do campo, acostumados a viver em casinhas”....
Saio das ruas secundárias e chego às grandes vias públicas como a Regent Street e a Piccadilly, que são bem complicadas para os ciclistas por causa de seus enorme ônibus vermelhos e da ausência de ciclovias, embora de modo geral eu venha tendo sorte com o clima e o trânsito.
Tomo alguns drinques com Verity McArthur, da Roundhouse, uma casa de eventos reformada há pouco tempo, e Matthew Byam Shaw, um proditor da peça Frost/Nixon, e algumas outras pessoas.
Nós nos encontramos em um clube particular em Convent Garden chamado Hospital, montado recentemente ao que parece por Dave Stewart (da banda Eurhythics) em um antigo, bom, hospital. (click e veja).
Quase todo mundo está com seus laptops abertos sobre as mesas do lugar. Todos interagindo, trocando e-mails e mensagens instantâneas (imagino eu), e bebendo, tudo ao mesmo tempo. Talvez eles estejam todos em meio a uma frenética socialização virtual - tentando decidir para onde irão mais tarde? Ou será que a interação com pessoas reais não é tão estimulante?
O pessoal por aquí adora esses clubes particulares, e eles só começaram a aceitar mulheres depois dos anos 80, mais ou menos, pelo que me disseram. Isso deve ser um legado do sistema de classes que ainda se perpetua obstinadamente de várias maneiras. Sob essa ótica classista, as pessoas precisam se diferenciar do "povão" sempre que possível - com seus discursos, roupas e, é claro onde elas bebem. Mesmo que não seja da alta sociedade, é preciso se isolar de quem está um pouco abaixo ou até mesmo daqueles ao seu lado que são diferentes de você de alguma maneira.
* David Byrne , escocês, músico e escritor, reside em Nova York desde o final dos anos 70

domingo, 23 de maio de 2010

Finalmente: "How New Yorkers Ride Bikes" - o evento.

Byrne no palco acompanhando"Classic Riders Bicycle Club"
David Byrne*
Tenho que mudar algumas das minhas idéias para o evento. Torna-se óbvio que um painel de discussões envolvendo numerosas entidades e representantes municipais podem ser uma receita para o tédio e os discursos chatos, então eu desisto da idéia de que algum consenso ou compromisso vá ser alcançado entre esse povo todo ao longo de uma noite. Fica decidido que os órgãos oficiais e as organizações vão apenas apresentar o que realmente irão fazer em um futuro próximo – nada de idéias vagas, mas planos concretos. Naturalmente, isso vai proporcionar apresentações menores.
Na noite do evento eu chego com uma câmera presa ao meu capacete – bem, a filmagem e minha narração foram na verdade gravadas no dia anterior, mas parece que é ao vivo. A câmera mostra o meu ponto de vista enquanto eu lido com o trânsito da Rua 42 e percorro p caminho até o teatro, o tempo todo com comentários rápidos sobre dicas para pedalar no trânsito de Nova York (“preste atenção em carros sedan e pessoas com placas de Nova Jersey”). O fato de ter usado uma câmara com lentes de ângulo aberto torna tudo um pouco mais assustador do que é – carros e pessoas aproximam-se de repente da tela – o que deixa mais divertido. Mas provavelmente não encoraja muito um passeio.
Eu entendo que as coisas não vão mudar da noite para o dia, mas este evento pode acabar sendo uma chance de reunir um monte de pessoas diferentes em um momento oportuno. Pode servir como um tipo de encorajamento tácito, um reconhecimento visível de que a mudança é possível, talvez até provável, e que usar bicicletas como meio de transporte na cidade de Nova York pode ser ok – se não agora, então certamente em um futuro bem próximo.
No final, o evento, que aconteceu em outubro de 2007(clik e veja máteria), foi bem sucedido, embora eu ache que tenha sido um pouco longo. Nós fomos precavidos demais e talvez tenhamos tido mais “atos” do que precisávamos, porque ficamos receosos de não ter conteúdo suficiente. Tivemos muito. Correu tudo bem, mas de vez em quando eu queria apertar o botão de avançar.
* Músico, fotógrafo e escritor. David Byrne nasceu na Escócia e vive em NY desde o final dos anos 70. Utiliza a bicicleta como meio de locomoção deste esta época.

sábado, 22 de maio de 2010

Estamos quase prontos para o evento!

Estruturas para prender bicicletas em NY - design e arte
David Byrne*
Rhonda Sherman, da New Yorker, sugere adicionar um pouco de cultura. Na linguagem da New Yorker isso significa mais literatura sobre ciclismo. Calvin Trillin vai ler um texto que ele escreveu sobre andar de bicicleta em Nova York, e Buck Henry vai ler um trecho de uma peça de Beckett sobre uma bicicleta. Rhonda consegue que mengfan Wu edite uma tocante montagem de quatro minutos com bicicletas em filmes - de Butch Cassidy a Caca, o Sapo até uma cena da série de tevê Flight of conchords. O diretor de teatro Greg Mosher é contratado e coordena a noite, e ele cuida para que tudo corra em um ritmo bom e tira um peso incrível dos meus ombros.
A Transportation Alternatives teve a ideia de providenciarmos manobristas para estacionar as bicicletas no ebento(!), já que quase não há lugares para prender bicicletas ao redor do Town Hall e espera-se que muitos ciclistas compareçam.
Estamos quase prontos. Nunca fiz nada assim antes - ser um empresário em vez de me apresentar. Estou um pouco ansioso.
*David Byrne, é músico, fotógrafo e escritor. Formado em Design, vive em NY desde o final dos anos 70

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Young&HeartChorus participam do evento no Town Hall


David Byrne*
O Departamento de Transportes pediu maiores recomendaçãoes ao seu escritório (Jan Gehl). Se eles e a cidade vão ouvir é outra história, mas é um passo comovente.
Em relação ao evento no Town Hall eu agora posso me mexer e me dedicar a garantir as partes mais obviamente divertidas do evento proposto. Eu entro em contato com o Young@HeartChorus **. Eles são um coral de Northampton, Massachusetts, e seu integrante mais jovem tem seus setenta e poucos anos. Eles cantam músicas do Sonic Youth, Ramones, Flaming Lips e Talking Heads(foi assim que tivemos contato). Nem preciso dizer que Road to nowhere ganha significado ainda maior quando cantada por este bando. Eu pergunto se eles cantariam a música "Bicycle race", do Queen neste evento - e algumas outras, já que imagino que farão sucesso. Eles nunca tocaram em Nova York antes, o que é uma surpresa, já que se apresentam direto em festivais do circuito europeu de arte. Eles concordam em participar, mas vai ser preciso intervalos para cochilos e banheiros suficientes para trinta pessoas.
Eu lembro ter visto vários grupos porto-riquenhos e dominicanos pela cidade que enfeitam antigas bicicletas Schwinn muitas vezes também colocando caixas de som gigantes nelas. As caixas garantem que, quando o grupo circula, ele possa levar sua própria trilha sonora de salsa e merengue. Eu abordo um grupo, Eddie Gonzalez and the Classic Riders, e pego seu cartão - eles tem um cartão! Eu os convido a mostrar suas bicicletas no palco e explicar rapidamente o que fazem ( sua entrada no palco acaba sendo com eles tocando música de Hector Lavoe em sua incrível coleção de buzinas customizadas).
Eu ví um site inglês, da Warrington Cycle Campaign, que tem uma seção chamada " Instalação do mês", com maravilhosas legendas irônicas para fotos com ciclovias locais que levam para o meio do trânsito pesado ou dão em cabines de telefone. Um representante desse grupo concorda em fazer uma pequena apresentação humorística de slides no evento da Town Hall.
* David Byrne, é músico, Design, fotógrafo e escritos. Mara em NY desde final dos anos 70.
**Young@Heart - HeartChorus: http://thecia.com.au/reviews/y/images/young-at-heart-production-notes.pdf
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quinta-feira, 20 de maio de 2010

Jan Gehl, mudando Copenhague

David Byrne*
Por meio da Transportation Alternatives, uma organização local, sou apresentado a Jan Gehl (clik e assista vídeo)foto), um visionário, porém prático planejador urbano que com sucesso transformou Copenhague em uma cidade simpática para pedestres e ciclistas. Pelo menos um terço de todos os trabalhadores de Copenhague vai a trabalho de bicicleta agora! Ele diz que metade deles irá aderir em breve. E ele não está sonhando.
Nós aquí em Nova York podemos  achar que isso é bom e natural para dinamarqueses, mas que nova-iorquinos são enfezados e têm uma mentalidade mais independente, então isso não pode acontecer aqui (a razão pela qual as pessoas sentem que dirigir um carro deixa alguém com uma mentalidade mais independente é um mistério para mim).
Mas Gehl revela que de início suas propostas foram recebidas lá extamente com o mesmo tipo de oposição: os moradores disseram, "Nós dinamarqueses nunca vamos concordar com isso - dinamarqueses nunca vão usar bicicletas".
Em uma apresentação de slides ele mostra as imagens de antes-e-depois de uma rua. Aquí está o depois:
Antes, a área que margeia esse canal era usada como estacionamento, os carros circulavam por ali procurando vagas. Esse lugar adorável era, há não há muito tempo, basicamente um feio estacionamento e um lugar de passagem. Agora é um destino. Os carros ainda podem circular por lá, mas não estacionar. E dessa pequena mudança a área explodiu como um agradável ponto de encontro e até turístico. A cidade nem teve de investir em "melhorias" caras para permitir que isso acontecesse. Os usuários e comerciantes locais fizeram as melhorias - colocando cadeiras do lado de fora e instalando toldos - embora no início muito deles tenham reclamado que se as pessoas não pudessem parar em frente aos seus estabelecimentos seus negócios iriam sofrer. Essa parece ser a maneira como Gehl trabalha, fazendo , aquí e ali, mudanças relativamente pequenas ao longo dos anos que acabam por transformar a cidade inteira, tornando-a um lugar melhor de viver.
Gehl concordou em participar do evento no Town Hall e dar uma pequena palestra! Há pouco tempo ele foi contratado como consultor pela cidade de Nova York e fez estudos da situação em outras cidades - Amsterdã, Melbourne, Sidney e Londres. Na foto ao lado, proposta de Gehl para requalificação urbana de uma grande metrópole.
* David Byrne, formado em Design, é músico, fotógrafo e escritor. Integrou a band Cult dos anos 80, "Talking Heads" e, vem divulgando os trabalhos de vários artistas brasileiro, como Tom Zé, Os Mutantes e Margareth Menezes.
Publicou em 2009 o Livro que inspira este blog : Diários de Bicicletas, Editora Amarylis.

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