Diários de Bicicleta é uma síntese do livro com o mesmo nome, escrito por David Byrne ao longo dos últimos anos. Num estilo despojado que passeia entre ensaio, relato de viagens, diário pessoal e albúns de fotografia, David Byrne registra também suas reflexões sobre uma variedade de assuntos. O livro foi publicado no Brasil pela editora Amarilys.

sábado, 17 de julho de 2010

O futuro da locomoção

David Byrne*
Em um artigo recente da revista New York, li que um em cada seis trabalhadores norte-americanos leva mais de quarenta e cinco minutos no trajeto de casa ao trabalho, em cada direção. Um número crescente de pessoas gasta ainda mais tempo - noventa minutos para chegar ao emprego não é nada fora do comum nos dias de hoje. Embora algumas destas pesoas usem transporte público - trêns urbanos e metrôs - há uma boa porcentagem de motoristas sozinhos aí também. È insustentável. Insustentável significa que alguma hora o comportamento será inevitavelmente alterado ou modificado, seja de forma intencional e voluntária, seja como resultado de consequência trágicas. De qualquer maneira, não vai continuar assim por muito tempo.
O fato é que no século XX o automovel foi subsidiado em larga escala. As ruas lindamente pavimentadas que dão acesso às menores cidadezinhas e regiões obscuras nos Estados Unidos não foram construídas e mantidas pela GM ou Ford - ou mesmo pela Mobil e Esso. Estas corporações foram se beneficiaram enormemente do sistema. Os trajetos ferroviários para cidades pequenas foram abandonados e os caminhões se tornaram, para a maior parte dos produtos, o meio mais barato, e às vezes único, de transportar produtos de um lugar a outro.
A cidade de Nova York está saindo na frente ao lidar com a congestão do tráfego, embora não seja exatamente uma cidade-modelo neste aspecto. Algumas cidades europeias - Copenhague, Berlin e Amsterdã - estão muito adiante nisso. Mas eu vivo aquí, então estou ansioso para ver como a grande e cruel Nova York vai lidar com este elefante.
O Departamento de Transportes (DDT) tem criado ciclovias aqui e ali nos últimos dez anos. Até agora a maioria delas tem sido útil.
Posso notar a diferença quando vou para o centro pelas novas ciclovias da Nona Avenida, coisa que faço com frequência. Instantaneamente sinto como se um peso tivese sido tirado. Não sinto mais a necessidade de ser tão paranoico. Não tenho medo de que um motorista resolva entrar na "minha" pista e, de certa forma, o estado de adrenalina em que entro quando estou negociando espaço nas ruas de Nova York quase se dissipa, por algumas quadras pelo menos. Me movo mais rápido também - não preciso ficar manobrando entre carros em fila dupla, pedestres, caminhonetes de entrega e táxis pegando ou desembarcando passageiros.

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